ENTRETANTOS E FINALMENTES

O município de Jacobina (foto), no piemonte da Chapada Diamantina, nesse belo estado da Bahia, tem uma administração municipal inédita, no mínimo, curiosa. A prefeita Valdice Castro (DEM) não manda em nada, segundo fontes consultadas por este blog. Na verdade, ainda conforme dizem seus correligionários (fogo amigo?) quem diz o que vai ou não ser feito, quem fica nesse cargo ou não, em linhas gerais, é o ex-prefeito Leopoldo Passos (DEM), esposo da mesma, que se intitula colaborador da administração, sem ter assinado nenhum Termo de Voluntariado, conforme prevê a Lei, ao menos que se saiba e seja público, que manda e desmanda no governo. Mentira? Verdade? Quem conhece a realidade política de Jacobina, sabe a resposta. Alguns, diante das vozes embargadas pela emoção em defesa dessa situação inusitada por aqui, podem até "engolir esta estória", de colaborador apenas, mas não é o caso das pessoas politicamente informadas e esclarecidas, que sabem que a estória não é bem assim. Pessoalmente, não vejo com surpresa ou rejeição esta situação. Primeiro porque somente os fanáticos e cegos, tais como os apaixonados que sucumbem a uma paixão avassaladora, não enxergavam ou sabiam de que teríamos um gestor de direito e outro de fato. Segundo que, se a tarefa social de voluntariado ou colaborador, como queiram, se não fosse seguido pela ânsia incontrolável pelo poder e pela centralização desse mesmo poder, de forma ditatorial e intimidatória, mostrada por esse colaborador em questão, repito, em conformidade com o que dizem seus correligionários e ex-correligionários (ex-otários como denominou Corino Alvarenga, em seu blog) até que seria natural e normal no serviço público no Brasil, perfeitamente legal, ressalvada a questão da não remuneração pela, digamos, prestação de serviço à comunidade.

O que, a população sabe e o funcionário público municipal sabe mais ainda, é que a fama de vingativo e repressor do ex-gestor é uma realidade. Não tem muita afinidade com os conceitos de democracia, liberdade e respeito pela opinião contrária à sua. Isto é um fato. No entanto, todos ou quase todos sabiam que isto aconteceria. E não vai mudar. Se a prefeita, sub-judice, completar seu mandato, o será assim em tempo integral, salvo ações políticas que modifiquem este atual cenário de perseguição e ausência de autoridade na atual gestão, por parte do secretariado e, inclusive da gestora, que, pessoalmente nada tenho contra, mas não se pode tapar o sol com uma peneira, nem pelas palavras emotivas ditas em emissoras de rádio, no máximo se pode encobrir um pouco seus reflexos.

Bom, um outro fato que chama a atenção: a prefeitura de Jacobina, segundo dados divulgado pelo Banco do Brasil, em seu site, no tópico de Distribuição de Arrecadação Federal (DAF), disponível para qualquer cidadão, na internet, recebeu no período de 09/01 a 04/03/2009, mais de R$ 9 milhões de reais brutos, que foram para os cofres da prefeitura, vindo somente de repasses federais, naturalmente sem contar aí o repasse estadual e os valores oriundos da arrecadação municipal. Uma verdadeira fortuna, algumas mega-senas, que não resultam, até agora, em obras e ações que sejam destinadas ao bem estar da coletividade, da comunidade. Nenhuma obra foi feita, nada se vê ainda de concreto nesta administração, que segundo um dos seus correligionários e eleitores ouvido por este blog, "ainda não disse para o que veio".

Somente para a Educação, vinda do FUNDEB, foram mais de R$ 3 milhões e 100 mil, sem que se veja qualquer ação da secretaria de educação e do município no sentido de promover mudanças e progressos educacionais, melhorias nas unidades escolares, auxílios profissionais e salariais destinados aos educadores, entre outra ações que são, senão tímidas, inexpressivas no âmbito dessa gestão da educação pública no município, que já sofreu nos últimos 4 anos com uma administração precária e ineficiente na educação e continua, por incrível que pareça, aida assim. Não é prioridade, se o fosse, as mudanças teriam se iniciado no primeiro escalão.

Uma outra verba além de curiosa, é intrigante: o município recebeu nesse período R$ 28.543,67 do FEP - Fundo Especial do Petróleo, que somados aos R$ 3.354,89 recebidos de Royalties da ANP - Agência Nacional do Petróleo, resultam no valor de R$ 31.898,56 que não se sabe, claramente, para onde vai esse dinheiro. Muita gente até desconhece que Jacobina recebe esses valores. Perguntar não ofende: para onde se destina estas verbas?

Um outro dado que incomoda: somente do Fundo Saúde do Governo Federal, Lula mandou para Jacobina, nesse período, mais de R$ 800.000,00 e, apesar disto, os serviços da saúde pública municipal estão precários, alguns ameaçados de extinção. Comenta-se na imprensa local e na cidade, como um todo, quase à exaustão, o estado de degradação vivida pela saúde pública municipal. CAP´s atendendo precariamente, profissionais que exerciam de forma competente na área, demitidos, outros foram embora, equipes afinadas profissionalmente, que serviam, e bem, a comunidade, foram desfeitas para abrigarem correligionários políticos, para agradarem vereadores e lideranças políticas, eleitores, entre outros, descontinuando o serviço eficiente que vinha se realizando nos PSF´s, no HATS e nos CAP´s. Não comungo da tese, ao menos integralmente, de que existe um caos na saúde pública, mas não há dúvidas, se não chega a tanto, existe de fato um cenário desastroso e ineficiente, do ponto de vista gerencial e administrativo, incluindo o técnico, na área. Lamentável. Recorrer à chamada herança maldita, é típico de gestões que não tem plano de governo prático e mergulha na ineficiência administrativa, é argumento simplório, demagogo e Jacobina não precisa disto.

Se há, e há, problemas graves, que se busquem soluções, e não se fique quase todos os dias a buscar essa ou aquela emissora de rádio para lamentos inúteis e plantarem notas politiqueiras em sites e jornal "chapas brancas", no intuito de somente responsabilizar a gestão passada, até porque, algumas destas situações graves tem suas raízes em outras gestões também, a exemplo dos 8 anos do ex-prefeito Passos (DEM, ex-PFL), que nada fez para que o Hospital Antônio Teixeira Sobrinho fosse uma unidade de saúde referencial na região, que não buscou nenhuma UTI para aquele nosocômio, nem para o Hospital Regional que ele administra, que negou parceria com o Estado da Bahia na gestão do Hemoba, que não construiu PSF´s e nem os CAP´s, enfim, são muitas as ações negativas da ex-gestão Passos na área de saúde e em outras, que não podem ser negadas, são fatos, e quem assim desejar negar o fará por paixão política-partidária, nada mais. É atirar no próprio pé. A memória do povo é, de fato, curta, mas o povo não é burro. E nesta área, a da saúde pública, ao menos, não isento também da responsabilidade o ex-prefeito Rui Macedo (PMDB), que também cometeu falhas e se equivocou em muitas ações da gestão pública, mas inegavelmente, fez muito mais pela saúde pública do município em seus 4 anos do que os 8 anos do seu adversário democrata. Recordo-me que à época da gestão do ex-(?)prefeito Passos, se dizia que Jacobina era um município-latinha: lá tinha isto, lá tinha aquilo, tudo se foi. Em 2009 vamos ter que ouvir isto de novo? Como diz FHC: "assim não dá, assim não pode!"

Bom, o que se espera, nisto tudo, é que Jacobina e seu povo, deixe de ser alvo de lamúrias e faniquitos políticos, que não levam a nada, e seja agraciada com ações produtivas voltadas para o seu progresso e o bem-estar da população. 60 dias de disse-me-disse já foram o suficientes. Alegar preconceito contra a mulher ou algo do gênero me parece tentar apenas encobrir incompetências e enganar a população, nada mais. Tá na hora dessa atual gestão mostrar para o que veio, o que ainda não o fez. Ou fez?

Parafraseando o inesquecível prefeito Odorico Paraguaçú, personagem da novela global O Bem Amado, de Dias Gomes, encerramos com a sua clássica frase e impagável da memória popular: "vamos deixar de lado os entretantos e partir pros finalmente".