
Toda a cidade de Jacobina foi literalmente invadida pelas muriçocas (Culex), verdadeiras chupadoras do sangue alheio, insetos tidos como os maiores perturbadores do sono humano, pelo seu zumbido e voracidade. Nada escapa, ninguém escapa. Hospitais, Clínicas médicas, Escolas, Residências, são alvos fáceis e sem defesas eficientes. Estamos, ano a ano, perdendo esta guerra. Os insetos estão atacando como nunca, e até o momento pouco ou nada foi feito para conter a fúria enlouquecida dos sugadores do sangue alheio. As ações são tímidas e resultam quase sempre em ineficiência visível e dolorosa. Adultos e crianças dos bairros de nossa cidade sofrem com a perturbação noturna, com os zumbidos enlouquecedores dos mosquitos, com as alergias ocasionadas pelas picadas, em especial nas crianças, com a incapacidade da Secretaria de Saúde de combater e erradicar estes invasores alados.
A população pede socorro e cobra das autoridades mais empenho no combate aos pernilongos.
Forçando a minha já combalida memória, recordo-me de que, ainda no governo Carlos Daltro, tido como o melhor prefeito que Jacobina já teve, nos idos do final dos anos 80, início dos 90, escrevi uma carta aberta ao então gestor, cobrando ações urgentes e eficazes no combate às muriçocas que, já àquela época eram motivos de muitas reclamações da população. Nosso Carlitão fingiu-se de surdo e mudo, nada fez, nem respondeu a carta, afinal poderia ser intriga da oposição né? Que muriçoca? Ele não via, não sabia.
O tempo passou, a guerra continuou, com um só vencedor: o Culex, a nossa "borrachuda vampiresca", a popular Muriçoca. Governos depois, quem deixou bem claro que quem manda nessa província em saúde pública mesmo é o Culex. Somos, todos os dias e noites, invadidos por legiões de muriçocas, literalmente sugando nossa paciência, nosso sangue e nossos parcos recursos financeiros na compra de inseticidas, mosquiteiros, etc.
Como se isto por si só já não fosse ruim, nos últimos anos, o Culex, este sanguinário costumaz em nossa cidade, se aliou a um forte e perigoso inimigo oriundo das florestas tropicais e das terras milenares do Egito, o mosquito da Dengue, se tornando ainda mais forte e perigoso este exército alado. Estamos perdendo não mais uma guerra, mas duas, já que a Bahia, e Jacobina está na lista, figura como um dos estados da Federação que mais casos de dengue tem registrado no país.
De quem é a culpa mesmo por este quadro negro da saúde pública em Jacobina?
Vamos citar 4 culpados, para não estender muito a lista:
CULPADO NR 01 - A Prefeitura. Que ao longo dos anos tem demonstrado uma quase total ineficência no combate e na erradicação da praga alada. As ações desenvolvidas são tímidas, inúteis e temporárias, quando se consegue algum breve sucesso. Dos últimos gestores da Saúde pública, daria uma nota melhor para Ivonildo Dourado, que quando esteve à frente da Secretaria de Saúde realizou algumas ações que resultaram na diminuição do Culex na cidade. E só. De 2009 para cá, em especial, a coisa só piorou.
CULPADO NR 02 - O Estado da Bahia, sem dúvida. Jacobina tinha sido beneficiada com obras do Esgotamento Sanitário, que tinha tido seu início. No entanto, a partir de 2007, o governo do PT embargou a obra, acusou desvios e iregularidades na licitação e contratos feitos no governo Paulo Souto (DEM), e a coisa travou, emperrou, deu uma sobrevida importante ao Culex, que se via ameaçado em sua hegemonia sugadora por aqui. De lá para cá somente promessas, ações tímidas de reinício de obras, marcações infindáveis nas ruas de determinados bairros por topógrafos - somente na minha rua, já mediram e marcaram pelo menos umas quatro vezes nestes últimos anos, sempre empresas diferentes e que garantiam que agora iam adiante, ledo engano - e a obra do esgotamento sanitário de Jacobina parece caminhar no mesmo ritmo das obras do Metrô de Salvador. Haja paciência.
CULPADO NR 03 - A Sociedade, que se apresenta de forma omissa e provinciana, sem força, sem organização, sem ânimo e, por vezes, estimuladas somente por intenções eleitoreiras, nada mais.
CULPADO NR. 04 - Ele, São Pedro, que, segundo a crença popular, detém a chave dos Céus e o gerenciamento das águas das chuvas, que diz onde e quando a chuva cairá. Como ele parece ter "perdido" o caminho de Jacobina, a chuva tem sido escassa e irregular, acreditam alguns, e os nossos rios tem se tornado, ao longo dos anos, verdadeiros esgotos a céu aberto, um ambiente mais do que generoso para a reprodução contínua do Culex e de outras pragas aladas e sugadoras de saúde e de sangue por aqui. Como as chuvas não são suficientes para a limpeza dos rios e de suas margens, que são diariamente inundadas por merdas e dejetos hospitalares e residenciais, a poluição avança, a podridão exala seu perfume para o deleite dos amantes do cooper e dos moradores de um modo geral, o Culex ri cada dia de nossa cara e suga nossa paciência e nosso sangue todas as noites, além de instruir seu "primo", o Aedes aegypti, que é o mosquito transmissor da dengue e da febre amarela urbana, sugador de sangue e transmissor destas doenças que age preferencialmente durante o dia. Então, de dia e de noite, somos alvos fáceis e um mero rebanho humano para essas pragas. Enquanto isto, o poder público e os políticos se mostram incompetentes no combate dessas pragas aladas, chegando ao ponto de alguns desses nossos "representantes" acreditarem mesmo que não são culpados, mas sim São Pedro, pois é, ele mesmo, seria o culpado nr. 01 e responsável por essa praga, senão o único. Assim sendo, apelemos então: socorro Pedro, o Santo, nos salve, pois dos homens pouco ou nada podemos mais esperar.
O Culex, este sim, não falha, está agora mesmo me atormentando, zumbindo em meus ouvidos, sugando meu sangue, afinal, suas vidas são curtas, é preciso reproduzir, reproduzir e se alimentar deste pobre "rebanho", desta pobre vida de gado, como denominou muito bem Zé Ramalho em uma de suas inesquecíveis canções.
Um comentário:
Caro Fred, excelente texto e concordo 100%. Aqui no Leader as muriçocas só faltam nos levantar e levar para sugar nosso sangue nas paredes e tetos das casas. Cadê a prefeitura? Sumiu, ninguém viu.
Carlos Matos
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